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As porteiras do Sítio do Picapau Amarelo eram e são como portais. Uma fronteira entre o mundo real e o mundo da imaginação. É preciso ser criança para entender a criação de Monteiro Lobato, com a Cuca, o Rabicó, o Saci, Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia, Dona Benta, o Visconde - um sabugo de milho que é gente; a Emília - uma boneca falante, e um rinoceronte que foge de um circo e acaba ganhando casa e o nome de Quindim, batizado pela Emília.
O rinoceronte amarelo participa de várias histórias como em "Emília no País da Gramática", onde mostra-se um verdadeiro sábio da língua portuguesa, guiando os meninos pela terra das letras. Em "O Poço do Visconde", aproveita-se de ser natural do Uganda, onde o inglês é a língua principal, para espionar o americano que veio abrir o primeiro poço de petróleo no Brasil, justo nas terras de Dona Benta. Simpático, inteligente, Quindim acaba por conquistar os moradores do sítio e sair das mãos da esperta Emília.
Mas quindim também pode ser aquele famoso doce brasileiro, feito à base de gemas de ovos, e que era o preferido de Mario Quintana. O poeta passarinho faria 113 anos esta semana, se vivo estivesse. Nascido em Alegrete, no rigor do inverno de 30 de julho de 1906. Imortais são o Quindim do Monteiro Lobato, o Quindim delicioso presente nas confeitarias e o nosso querido Mário Quintana.
Mas o que o Quindim do Sítio e o quindim do Quintana têm em comum? Eles são a inspiração para um espaço de leitura que conheci no final de semana, em Caxias do Sul. Um oásis em meio a tantas notícias de fechamentos de bibliotecas e indicadores do quanto não damos valor aos livros e à leitura.
O Instituto Quindim fica num prédio antigo, tombado pelo patrimônio histórico de Caxias do Sul, onde funcionava um antigo moinho. A família restaurou e transformou num Centro Cultural.
Fiquei encantada com o lugar, mais ainda com a ocupação do espaço, que abriga uma companhia de teatro, um café, uma sala para apresentações culturais, um espaço para exposições e a Biblioteca Quindim, com mais de 5 mil títulos nacionais e estrangeiros. O Instituto Quindim foi criado por dois amantes da literatura infanto-juvenil e claro, fãs do Monteiro Lobato e do Mario Quintana: o Volnei Canônica e o escritor e ilustrador Roger Mello - ganhador do Prêmio Hans Christian Andersen em 2014, considerado o nobel da literatura infantil.
Monteiro Lobato sempre dizia que ainda faria livros em que as crianças pudessem morar dentro. O pai da literatura brasileira infanto-juvenil fez mais do que isso. O sítio é o sonho das férias de crianças de várias gerações e ainda inspiração para espaços como a Biblioteca Quindim, um espaço interativo, que brinca com a imaginação dos visitantes e dos leitores assíduos que frequentam o lugar. E de quebra, penduradas nos varais daquele lugar mágico, a exposição das ilustrações originais do livro "Uma Biblioteca é uma Casa Onde Cabe Toda a Gente", da escritora portuguesa Mafalda Milhões. Ah, e muitos rinocerontes, de diversos países e formatos. E claro, o Quindim, amarelinho, do Sítio. Um lugar para esperançar!